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Chamada de artigos para secção temática: "O gesto que atravessa a dança e a filosofia"

A RED – Revista Estud(i)os de Dança tem o prazer de convidá-los a submeter os vossos artigos para a secção temática: "O gesto que atravessa a dança e a filosofia".

Editores convidados:

Ana Mira

(Escola Superior de Teatro e Cinema, Instituto Politécnico de Lisboa; Instituto de Filosofia da Nova, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Portugal)

Ezequiel Santos

(Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril; Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa, Portugal)

A Revista Estud(i)os de Dança (RED) lança uma secção temática dedicada ao tema: “O gesto que atravessa a dança e a filosofia”

Nesta edição convocamos o gesto para fazer ressoar a dança na filosofia e a filosofia na dança. Por esse encontro entre a dança e a filosofia se manifestar de diferentes formas ora pelo corpo que dança, ora pela linguagem verbal e o pensamento conceptual, propomos o tema do gesto como um lugar, ao mesmo tempo sensível e inteligível. Traduzida do gesto, a escrita torna-se expressão do encontro entre a dança e a filosofia nos textos reunidos que propomos apresentar. Através de ensaios teóricos, entrevistas, documentos, convidamos a participação de autores que trabalham, especificamente, no cruzamento entre a dança e a filosofia.

A pergunta sobre o que a filosofia traz à dança e aos estudos da dança reverte para o que a dança e os estudos da dança trazem à filosofia, lembrando os três volumes da TDR (The Drama Review) dedicados ao tema. Propomos ensaiar uma aproximação entre a dança e a filosofia, através da sua ressonância mútua, ou “entrelaçamento íntimo” (Lepecki, 2006), para traçar uma possível compreensão do gesto, lá onde a dança e a filosofia dialogam; e, cada uma diferentemente, se experimentam, compõem e reinventam.

Compreender o gesto no cerne do encontro entre a dança e a filosofia significa reflecti-lo no movimento fractal da vida e das suas passagens, considerando, para tal, a desmedida das formas e da representação, a poética capaz de “expressing an experience that is essentially ineffable” (Sontag, 2013, p. 9), o “inconsciente do corpo” na linguagem (Gil, 2001) e, assim, os vestígios da camada não-verbal no acto de pensar filosoficamente a dança. Nas passagens entre o gesto da dança e o gesto da escrita, “em revezamentos entre eles que extravasam o quadro da sua simples aplicação” (Bardet, 2015, p. 11), são os gestos que fazem proliferar os sentidos na dança e filosofia.

No atravessar das problemáticas trazidas pelo gesto, as três secções que orientam esta edição consistem em: o campo da dança e filosofia (1); os processos de investigação e criação artística e filosófica (2); e, os testemunhos que contam as histórias do encontro entre a dança e a filosofia (3). A primeira secção procura repensar e problematizar a dança e filosofia como campo de investigação, pela esfera do gesto, ao escutar o contributo de alguns autores que têm traçado caminhos possíveis nessa esparsa história. A segunda secção pretende abordar os modos de fazer em diferentes processos dialógicos, coreográficos e filosóficos. A terceira, e última secção, cria um espaço de abertura para a inclusão de testemunhos onde o “diagrama” (Lingis, 1994) do gesto convoca e sustenta o gesto do outro no plano da transmissibilidade intercorpórea e intersubjectiva.

Entre as temáticas passíveis de abordagem encontram-se:

  •   A intermitência da dança na história da filosofia
  •   O que é o gesto? O que sei do gesto? Porquê o gesto?
  •   O estado nascente do gesto
  •   O transitar mútuo entre os conceitos filosóficos e a composição coreográfica
  •   O gesto como cuidado
  •   A política do gesto
  •   O gesto como memória
  •   O gesto como testemunho da existência
  •   O gesto em diálogos e partilhas

Este projecto profere um desejo de dar consentimento ao campo de estudo da dança e filosofia na universidade, nos centros artísticos, e em comunidades que, mesmo temporárias, fazem teia no mundo.

Referências bibliográficas

Bardet, M. (2015). A filosofia da dança: Um encontro entre dança e filosofia (R. Schöpke & M. Baladi, Trads.). Martins Fontes.

Gil, J. (2001). Movimento total: O corpo e a dança (M. Serras Pereira, Trad.). Relógio d’Água.

Lepecki, A. (2006). Mutant Enunciations. TDR (1988-), 50(4), 16–20. http://www.jstor.org/stable/4492710

Lingis, A. (1994). The community of those who have nothing in common. Indiana University Press.

Sontag, S. (2013). Styles of radical will. Picador.

 

Ana Mira (Lisboa, 1976). Doutorada em Filosofia /Estética pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, em 2014, com a tese Silêncio, potência e gesto: um corpo na dança, realizada sob orientação do filósofo José Gil, como investigadora visitante no Center for Research in Modern European Philosophy, Kingston University e bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Fez o Curso de Estética: Imagem e Semelhança no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, em 1999. Concluiu o Curso de Intérpretes de Dança Contemporânea do Fórum Dança, em 1999; e estudou Dança Clássica, Técnicas de Movimento Contemporâneo, Anatomia e Fisiologia Experiencial, Integração do Movimento, Estudos do Corpo, Filosofia e Documentação no c.e.m. – Centro em Movimento, entre 1992 e 2013.

Actualmente, é professora adjunta convidada na Escola Superior de Teatro e Cinema, Instituto Politécnico de Lisboa, leccionando nas disciplinas de Corpo (Licenciatura), Teorias e Práticas do Corpo (Mestrado), Estudos de Presença: Corpo e Duração (Doutoramento). É professora no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, na área da Estética, e investigadora e membro integrado no Instituto de Filosofia da Nova, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.

Entre os seus ensaios publicados internacionalmente, encontram-se: Laboratorio de movimento y filosofía: un testemonio (Segunda en Papel, 2024), Corpo e cidade: um estudo sobre o comum e os undercommons nas Acções de Eleonora Fabião (Húmus, 2023), Para una presencia del ritmo en la escritura de Nijinski, el movimiento del sentimiento y la imagen suspendida (Rhuthmos, 2020), Poema-acontecimento, um encontro entre a palavra e o corpo (Nuisis Zobop e Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, 2019), Contornos de inexistência: uma leitura da peça coreográfica I AM HERE, de João Fiadeiro (2003) (Teatro Municipal do Porto /Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2018), Sensorial document: an embodied practice in dance and philosophy from collaboration in After Kaprow: The Silent Room by Rosemary Butcher (2012), Journal of Dance and Somatic Practices, 2016). Tem vindo a apresentar as suas comunicações em conferências internacionais, sendo as mais recentes Gestures of alterity and ecologies of practice in architecture and dance (KASK School of arts, University College Ghent, 2024) e Isadora Duncan Gertrude Stein Susanne K. Langer, movimentos de aparição e resistência na dança, poesia e filosofia (Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, 2021). 

Foi investigadora visitante no departamento de Performance Studies da Tisch School of the Arts, New York University como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, em 2007. No âmbito desta bolsa, estudou e investigou no Lincoln Center for the Performing Arts, Movement Research e Trisha Brown Dance Company. Desenvolveu o Program of Study and Research /Dance no Dans Studio Pauline de Groot como bolseira do Departamento de Relações Culturais e Internacionais, Ministério da Cultura, entre 2002 e 2003.

Teve formação artística independente em Práticas Somáticas, Dança Contemporânea e Qigong em Portugal, Europa e Estados Unidos, destacando a sua formação com Bonnie Bainbridge Cohen, Eva Karczag, Francisco Camacho, João Fiadeiro, Lisa Nelson, Steve Paxton, Vera Mantero. No âmbito dos Estudos da Dança, Estética e Filosofia destaca a sua formação com André Lepecki, Christine Greiner, Kuniichi Uno, Maria Filomena Molder, Marie Bardet, Peter Hulton, Peter Pál Pelbart, Richard Schechner. É formadora de Qigong com título profissional da Federação Portuguesa de Artes Marciais Chinesas, IPDJ.

Apresentou trabalho coreográfico, destacando At Once, uma adaptação do solo de Deborah Hay (Teatro Maria Matos, 2010), Três Estudos para Shihtao (Teatro Camões, 2007), Dueto (Festival Alkantara, 2006). Como performer de dança destaca a sua colaboração com Pauline de Groot (2001/2003), Russell Dumas (2003/2005) e Rosemary Butcher (2011/2015).

Leccionou Práticas incorporadas, improvisação e composição; Estudos da dança, História da dança, Laboratório de movimento e filosofia; Filosofia e Estética no Trinity Laban Conservatoire/Independent Dance, Faculdade de Motricidade Humana, Fórum Dança, c.e.m., Balleteatro, entre outros centros académicos e artísticos.

Fez curadoria dos projectos Coalescer, no espaço do corpo em pensamento: seminário contínuo e colectivo de dança, desenho e filosofia, na Porta33, entre 2020 e 2022; Laboratório de dança e filosofia, no Polo Cultural Gaivotas Boavista, em 2017; Tomar posição, o político e o lugar: curso experimental em estudos de performance, com o baldio | Estudos de Performance, em 2016; e Seminário permanente em performance e filosofia, no Instituto de Filosofia da Nova, em 2015.

 

Ezequiel Santos (Coimbra, 1967). Doutorado em Arte Contemporânea pelo Colégio das Artes (UC) em 2024 com a tese Corpo e Espaço: uma leitura dinamológica da dança contemporânea em espaços não convencionais, orientada pelo filósofo João Maria André. É Professor Adjunto convidado na ESHTE, na área de ciências sociais, e Professor Auxiliar convidado na FMH/Universidade de Lisboa. Foi Professor convidado na ESD/Instituto Politécnico de Lisboa em 2005/2006. Actualmente  investiga no projecto europeu Premiere - Performing arts in a new era: AI and XR tools for better understanding, preservation, enjoyment and accessibility (HORIZON-CL2-2021-HERITAGE-01), e no núcleo português da OIAPODAN – Observatório Ibero-americano de Políticas para a Dança. É investigador colaborador do INET-md (pólo FMH).

É diretor e curador na Forum Dança, associação cultural da qual faz parte desde 1996. Até 2006, enquanto diretor do Núcleo de Apoio Coreográfico, participou na organização de intercâmbios formativos e artísticos com mais de uma centena de parceiros internacionais entre a Europa, a Ásia e a América, e dirigiu o boletim informativo e temático forumdanca.BT. Entre 2018 e 2023 programou o ciclo de apresentações Cartografias.

Estudou fotografia, teatro, voz, e dança  - em Lisboa e Nova Iorque -  e concluiu o II Curso de Monitores de Dança para a Comunidade da Forum Dança, em 1993. Na sua formação destaca a importância de António Pinto Ribeiro e Gil Mendo (na filosofia e coreologia), Madalena Victorino, Paula Massano, Rui Nunes, Francisco Camacho, Meg Stuart, Margarida Bettencourt, Águeda Sena (nas técnicas, composição e estudos do corpo), Rui Pisco (teatro e interpretação), Ghislaine Boddington (corpo e tecnologias) e de Maria João Serrão e Luís Madureira (voz). Em 1993 participou na Maratona para Dança que decorreu no Teatro Maria Matos e, até 1995, fez crítica de dança para publicações nacionais e colaborou com Paula Massano na produção e assistência de ensaios das coreografias Auto-retrato (1993) e Anteros o Amante Visual (1994). Integrou o Forum Coreográfico Europeu em Dartington (1995/6) criando as performances Total exposure e Eerie. Entre 1990-1996 foi bailarino apresentando-se em Portugal, Espanha, França, Grã-Bretanha, Bélgica, Suíça e Itália, destacando, entre outros, os seus papéis nas criações de Madalena Victorino (O terceiro quarto, 1991), Rui Nunes (A ilha dos amores, 1991) e Francisco Camacho (Primeiro Nome: Le, 1994).

Desde 1997 leciona regularmente seminários em História e Teoria da Dança nos cursos de formação do Forum Dança e a convite de várias instituições municipais. Entre 1996 e 2005 foi consultor dramatúrgico em peças de Paulo Henrique, Teresa Prima, Barbara Kraus e Francisco Camacho. Em 2015 e 2016 foi programador convidado pela EIRA para Cumplicidades - Festival Internacional de Dança de Lisboa. A partir de 2020 tem participado nos projetos da Nuisis Zobop, em torno das criações e edições de Joana Von Mayer Trindade e Hugo Calhim Cristóvão na interseção dos estudos em dança com a filosofia e as teorias da cultura.

Os seus interesses na investigação cruzam a fenomenologia da experiência estética, a ópera, os estudos da consciência e as ciências sociais. Colaborou, entre outros, nos livros Movimentos Presentes (M. J. Fazenda, Ed., Cotovia & Danças na Cidade, 1997), Corpo Fast Forward (Porto 2001 & Número, Ed.), Documento Dez Mais Dez (Re.Al/João Fiadeiro & Forum Dança, Ed., 2001), Tourfly – Inovação e Futuro: contributos para o desenho da oferta turística na Área Metropolitana de Lisboa (Lisboa-01-0145-Feder-023368, 2019), Caderno do Rivoli # 9, 2023. 

Na sua produção articulista tem procurado  cultivar a escrita académica de um modo mais próximo do literário e os seus artigos têm-se centrado nas área do corpo (View of Body, tourisms, resonances (ufjf.br)) e das artes performativas (https://doi.org/10.53072/RED202401/00209). Ezequiel Santos é membro efetivo da Ordem do Psicólogos Portugueses, membro internacional da APA com inscrição na divisão 24 (Psicologia teórica e filosófica) e Psicoteraputa Gestalt formado no Instituto Gestalt de Valencia (2003-2007) sob a direção científica de Manuel Ramos Gascón. Enquanto conferencista ou moderador tem participado em eventos na Alemanha, Áustria, Brasil, Bulgária, Espanha, Japão, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Roménia e Turquia.