Licenciada em Engenharia do Ambiente pela ESB da UCP, Doutoranda em Dança na FMH da UL, bolsista da FCT e orientadora de Mestrado em Artes Cénicas na ESMAE. A sua carreira conta com trabalhos de pesquisa, formação e criação artística, como bailarina e coreografa desde 2005, realizados em Burkina Faso, Benim, Brasil e Europa. Apoios da GDA: “Formação e especialização internacional 2021" no estágio "Reencontro Culturais e Artísticos" no Benim; “Circulação de Espetáculos 2020” com projeto Affôtè no Benim; “Espetáculo ao vivo e Tournée” com solo “Metamorfose” no Festival BoloArts 2016 e com Espetáculo “Recherche” no Festival In Out Dance 2015, em Burkina Faso; “Apoio Projetos de Residência 2010 e 2011” em Burkina Faso. Apoio da Fundação Gulbenkian “Internacionalização em Dança 2018” com Projeto Olokum e Farisogo Sira no Benim e no Brasil. Apoio “Procedimento Simplificado da Dgartes 2022”, e do Museu da Escravatura e da Câmara Municipal de Lagos em janeiro de 2024, para o projeto de investigação artística Aliklan e formação Wè-Aton-Dokpô. Bolsa “Programa residências artísticas 2021”, com projeto Ali-Klan, no Campus Paulo Cunha e Silva. Especializou-se em Danças da Costa Oeste de África, tendo criado o seu próprio método de ensino “Farisogo Sira”. Formada em Pilates pelo ALM Pilates Institute, é professora na Licenciatura de Interpretação na ESMAE e em várias outras escolas. Trabalha desde 2002 em projetos educativos e sociais, com o Projeto Mus-e, apoiado pelo Ministério Educação e Fundação Gulbenkian.
Este artigo é baseado no processo criativo de Guillaume Niedjo, coreógrafo e bailarino beninense, Hounnon de Vodum, na criação da performance artística Affôtè, vivenciado e desenvolvido quer em contexto de cerimónias rituais Vodum, realizadas nos Hounkpamins, quer em laboratórios de formações e criações artísticas, no Benim. É proposta deste artigo refletir sobre os elementos que caracterizam o uso do estado de transe como inspiração num processo criativo, de um adepto de Vodum, quando passa o seu conhecimento, aprendido com os seus mestres e ancestrais, para uma criação artística. Importa conhecer os princípios e fundamentos que permitem construir/desconstruir a configuração corpórea existente no estado de transe, na criação da performance Affôtè. Metodologicamente socorremo-nos do trabalho de campo realizado no Benim, entre 2018 e 2022, da observação da obra e da aplicação de entrevistas semiestruturadas ao bailarino, a adeptos de Vodum e a Hounnous, no âmbito de uma pesquisa de doutoramento em Dança na Faculdade de Motricidade Humana. Como principal tendência conclusiva destaca-se que Guillaume Niedjo reinterpreta permanentemente a cultura Vodum aprendida e experienciada pelo seu corpo, através da recuperação de comportamentos (Schechner, 1985) ancestrais, seguindo as regras e costumes implícitos na sua cultura. Concomitantemente permite-se ou não usar o estado transe como inspiração criativa. Em Affôtè, transpõe e interpreta a desconstrução do estado de transe uma cerimónia, numa performance do “fazer acreditar” ou “fazer de conta” (Zenícola, 2001), respeitando as regras do que pode ou não ser exposto, assentes na autorreflexão artística e sociocultural do autor.
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