Saltar para menu de navegação principal Saltar para conteúdo principal Saltar para rodapé do site

Artigos originais

Vol. 1 N.º 2 (2023): Revista Estud(i)os de Dança 2

O estado de transe de um corpo adepto de Vodum no Benim, como inspiração num processo criativo

DOI
https://doi.org/10.53072/RED202302/00205
Publicado
15.03.2024

Resumo

Este artigo é baseado no processo criativo de Guillaume Niedjo, coreógrafo e bailarino beninense, Hounnon de Vodum, na criação da performance artística Affôtè, vivenciado e desenvolvido quer em contexto de cerimónias rituais Vodum, realizadas nos Hounkpamins, quer em laboratórios de formações e criações artísticas, no Benim. É proposta deste artigo refletir sobre os elementos que caracterizam o uso do estado de transe como inspiração num processo criativo, de um adepto de Vodum, quando passa o seu conhecimento, aprendido com os seus mestres e ancestrais, para uma criação artística. Importa conhecer os princípios e fundamentos que permitem construir/desconstruir a configuração corpórea existente no estado de transe, na criação da performance Affôtè. Metodologicamente socorremo-nos do trabalho de campo realizado no Benim, entre 2018 e 2022, da observação da obra e da aplicação de entrevistas semiestruturadas ao bailarino, a adeptos de Vodum e a Hounnous, no âmbito de uma pesquisa de doutoramento em Dança na Faculdade de Motricidade Humana. Como principal tendência conclusiva destaca-se que Guillaume Niedjo reinterpreta permanentemente a cultura Vodum aprendida e experienciada pelo seu corpo, através da recuperação de comportamentos (Schechner, 1985) ancestrais, seguindo as regras e costumes implícitos na sua cultura. Concomitantemente permite-se ou não usar o estado transe como inspiração criativa. Em Affôtè, transpõe e interpreta a desconstrução do estado de transe uma cerimónia, numa performance do “fazer acreditar” ou “fazer de conta” (Zenícola, 2001), respeitando as regras do que pode ou não ser exposto, assentes na autorreflexão artística e sociocultural do autor.

Referências

  1. Araújo, A. L. (2009). Caminhos atlânticos memória, patrimônio e representações da escravidão na rota dos escravos. Howard University.
  2. Aubrée, M. (1996). Transe: entre libération de l’inconscient et contraintes socioculturelles. In M. Godelier (Dir.), Meurtre du père, sacrifice de la sexualité, (pp. 173-192). Arcanes.
  3. Azevedo, E. L. (2021). Affôtè - processo criativo de um bailarino beninense numa cerimónia e numa criação artística do vodum. In A. Midori, A. M. Pereira, J. Nascimento, M. L. Gomes, & M. I. Barreira (Eds.), Desassossegos: Ata expandida do 8.º EPRAE (pp. 113-121). i2ADS edições. https://i2ads.up.pt/wp-content/uploads/2022/10/DESASSOSSEGOS_Ata-Expandida-do-8oEPRAE_web.pdf
  4. Bairrão, J. F. M. H., & Coelho, M. T. Á. D. (2015). Etnopsicologia no Brasil: teorias, procedimentos, resultados. Edufba. http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/18029
  5. Bastide, R. (2001). O candomblé da Bahia: Rito Nagô. Companhia das Letras.
  6. Bourdieu, P. (1977). Outline of a theory of practice. University Press.
  7. Bourdieu, P. (1990). O poder simbólico. Editora Bertrand.
  8. Brand, R. (1974). Initiation et consécration de deux Vodun dans les cultes vodu. Journal de la Société des Africaniste, 44(1), 71-91.
  9. Brivio, A. (2012). Il vodu in Africa Metamorfosi di un culto. Viella.
  10. Freixe, G. (2017). Le Corps, ses dimensions cachées - Pratiques scéniques. L’université de Franche-Comté (Unité ELLIADD), de l’Institut Supérieur Des Beaux-Arts de Besançon et de La Région Occitanie.
  11. Gbegnonvi, R. (2020). Le Vodun ne fait pas rever. Editions Continents.
  12. Harisdo, V. (2020). Le Võdù autrement: Le Võdù démystifié. Copymedia.
  13. Herskovits, M. J. (1938). Dahomey: An ancient West African kingdom, vol. 2. J. J. Augustin.
  14. Hounkpe, A. D. G. (2008). L’éducation dans les couvents vodous au Bénin. L’éducation en débats: Analyse Comparée, 5, 1–13.
  15. Jackson, M. (1989). Paths toward a clearing: Radical empiricism and ethnographic inquiry. Indiana University Press.
  16. Kakpo, M., & Ananou, B. (2018). Sens et fonction du nom dans le Vodun : Une anthroponymie des initiés de Sakpatá chez les Fon. In M. Kakpo (Ed.), Jogbe – La Revue des Humanités vers une Heuristique des Recherches sur le Vodun (pp. 123-142). Les Editions Diasporas.
  17. Kakpo, M. (2013). Vodun Sakpata et épidémie de variole dans la littérature orale sacré du golfe du Bénin. Ponti/Ponts - Langues Littératures Civilisations des Pays Francophones, 13, 13-34.
  18. Kakpo, M. (2010). Introduction a une poétique du Fa (2.ª Ed.). Presses universitaires de Yaoundé.
  19. Kligueh, B. G. (2001). Le vodu à travers son encyclopédie: La géomancie Afà. Editions AFRIDIC.
  20. Métraux, A. (1955). La comédie rituelle dans la possession. Diogène, 11, 26-49.
  21. Monsia, M. (2003). Religions indigènes et savoir endogène au Bénin. Flamboyant.
  22. Navarro, G. (2000). O corpo cénico e o transe: Um estudo para a preparação corporal do artista cênico. Universidade Estadual de Campinas.
  23. Parés, L. N. (2016). O rei, o pai e a morte. Editora Schwarcz.
  24. Rouget, G. (1990). La musique et la transe. Gallimard.
  25. Roy, C. (2005). "Kokuzahn (voodoo)" Traditional Festivals. A Multicultural Encyclopedia, Volume 1, ABC-CLIO, 231-232
  26. Santos, B. (2008). Do pós-moderno ao pós-colonial: E para além de um e outro. Travessias Ed.
  27. Schechner, R. (1985). Between theater and anthropology. University of Pennsylvania.
  28. Schechner, R. (2013). Performance Studies: An Introduction. Routledge.
  29. Schott-Billman. (1977). Corps et possession. Le vécu corporel des possédés face à la rationalité occidentale. Bordas.
  30. Warnier, J.-P. (2001). A praxeological approach to subjectivation in a material world, Journal of material culture, 6(1), 5-24.
  31. Zenícola, D. (2001). Dança das Iabás no Xirê: Ritual e performance [Tese de Mestrado em Teatro – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO]. Bibliografia Crítica do Teatro Brasileiro. https://bctb.eca.usp.br/obra.php?cod=17758