Saltar para menu de navegação principal Saltar para conteúdo principal Saltar para rodapé do site

Artigos originais

Vol. 1 N.º 1 (2023): Revista Estud(i)os de Dança 1

Retornos entre a criação artística e a pesquisa científica: Uma metodologia de transmutação entre a experiência artística e a escrita académica

DOI
https://doi.org/10.53072/RED202301/00201
Publicado
27.04.2023

Resumo

Partindo do exemplo de um processo de Pesquisa Baseada na Prática desenvolvido no âmbito de uma investigação de doutoramento em dança, este artigo faz uma reflexão que foca a natureza e mais valias do conhecimento gerado pela prática artística em contraponto com a natureza do modo de conhecimento tradicionalmente associado à produção académica. 

Fundamentando-se em diversos autores do âmbito de estudos de Embodied Cognition, na análise dos conceitos de know-how e know-what de Gilbert Ryle (2009) e nas questões de linguagem e intersubjetividade de Daniel Stern (1985), o conhecimento desenvolvido pela prática artística é aqui exposto enquanto um conhecimento incorporado no qual se gera sentido através das perceções somáticas e sensoriomotoras, ao passo que o conhecimento académico é caracterizado essencialmente enquanto um modo de conhecimento teórico, onde se concebe e formula sentido através da estrutura da linguagem verbal. Desse modo, deduz-se que, num processo de Pesquisa Baseada na Prática caracterizado pela interação entre a prática artística e a investigação teórica académica, torna-se fundamental desenvolver metodologias que consigam refletir estas diferenças (relativas ao modo de sentir e conceber sentido) e, simultaneamente, integrá-las. Além disso, considerando que a estrutura da linguagem verbal influencia a forma como pensamos, propõe-se que no âmbito de tais metodologias se questione e desafie o modo de usar a linguagem verbal. Partindo destas considerações, este artigo aponta uma proposta metodológica para a transferência entre modos de conhecimento intrínsecos à prática investigativa do âmbito da criação artística e os modos de conhecimento concebidos no domínio da investigação académica. 

Defende-se ainda que o conhecimento incorporado, ao invés da tendência tradicional do conhecimento académico, predispõe-se a uma atitude ética de qualidades dinâmicas, adaptativas. Uma atitude que não aspira agarrar o mundo como algo estático e definitivo ou controlar o ambiente enquanto algo extrínseco mas sim experienciar o desafio de incorporar e navegar o ambiente. 

Referências

  1. Billeter, J.-F. (2002). Leçons sur Tchouang-Tseu. Allia.
  2. Bolt, B. (2007). The Magic is in Handling. In E. Barrett and B. Bolt (Eds), Practice as research: Approaches to creative arts enquiry (pp. 27-34). I.B. Tauris. http://dx.doi.org/10.5040/9780755604104.ch-002
  3. Candy, L. (2006). Practice based research: A guide. CCS Report: 2006-V1.0 November. University of Technology Sydney.
  4. Clark, A. (1998). Embodiment and the philosophy of mind. In A. O ́Hear (Ed.), Current Issues in Philosophy of Mind (Supplement 43, pp. 35-51), Royal Institute of Philosophy. Cambridge University Press. https://doi.org/10.1017/S135824610000429X
  5. Claxton, G. (2005). Mindfulness, Learning and the Brain. Journal of Rational-Emotive & Cognitive Behaviour Therapy, 23(4), 301-314. https://doi.org/10.1007/s10942-005-0016-8
  6. Damásio, A. (2003). Ao Encontro de Espinosa. Publicações Europa América.
  7. Damásio, A. (2010). O livro da consciência: A construção do cérebro consciente. Círculo de Leitores.
  8. Deleuze, G., & Guattari, F. (1987). A thousand plateaus: Capitalism and schizophrenia II. University of Minnesota Press.
  9. Dezeuze, A. (2002). Origins of Fluxus score: From indeterminacy to the `do-it-yourself ́ artwork. Performance research, 7(3), 78-94. https://doi.org/10.1080/13528165.2002.10871876
  10. Dolphijn, R., & Van der Tuin, I. (2012). New materialism: Interviews & cartographies. Open Humanities Press.
  11. Feyerabend, P. (1993). Against Method. Verso Books.
  12. Fink, E. (1981). The problem of the phenomenology of Edmund Husserl. In W. Mckenna, R. M. Harlan, & L. E. Winters (Eds.), Apriori and World: European Contributions to Husserlian Phenomenology (pp. 21-55). Nijhoff Publishers. https://doi.org/10.1007/978-94-009-8201-7_2
  13. Furlong, J., & Oancea A. (2006). Assessing quality in applied and practice-based educational research: A framework for discussion. Australian Educational Researcher Journal, 33 (special issue), 89-104. https://doi.org/10.1080/02671520701296015
  14. Haseman, B. (2006). A Manifesto for Performative Research. Media International Australia, 118(1), 98-106. https://doi.org/10.1177/1329878X0611800113
  15. Lakoff, G., & Johnson, M. (1980). Conceptual metaphor in everyday language. The Journal of Philosophy LXXXVII(8), 453-486. https://doi.org/10.2307/2025464
  16. Lakoff, G., & Johnson, M. (1999). Philosophy in the flesh: The embodied mind and its challenge to western thought. Basic Books.
  17. Lakoff, G., & Johnson, M. (2003). Metaphors we live by. University of Chicago Press.
  18. Lima, C. de (2013). Trans-Meaning: Dance as an embodied technology of perception. Journal of Dance and Somatic Practices, 5(1),17-30. https://doi.org/10.1386/jdsp.5.1.17_1
  19. Lima, C. de (2017a). Pensamento transversal: A arte de experienciar o mundo como o paradoxo de movimento [Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa]. Repositório da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10400.5/15019
  20. Lima, C. de (2017b). A Arte vem resgatar e ferir os limites e definição do conhecimento teórico [Imagem gráfica]. In C. de Lima, Pensamento transversal: A arte de experienciar o mundo como o paradoxo de movimento [Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa], p. 42. Repositório da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10400.5/15019
  21. Lima, C. de (2017c). O fenómeno de conhecer é intrinsecamente transcendente [Imagem gráfica]. In C. de Lima, Pensamento transversal: A arte de experienciar o mundo como o paradoxo de movimento [Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa], p. 99. Repositório da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10400.5/15019
  22. Lima, C. de (2017d). Score 4 [Imagem gráfica]. In C. de Lima, Pensamento transversal: A arte de experienciar o mundo como o paradoxo de movimento [Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa], p. 82. Repositório da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10400.5/15019
  23. Little, S. (2011). Practice and performance as research in the arts. In D. Bendrups, & G. Downes (Eds.), Dunedin soundings (pp. 17-26). University of Otago Press. https://ourarchive.otago.ac.nz/handle/10523/6769
  24. Merleau-Ponty, M. (1999). Fenomenologia da Percepção. Martins Fontes Editora Lda.
  25. Merleau-Ponty, M. (2006). O olho e o espírito. Vega.
  26. Robinson, K. (2001). Out of our minds: learning to be creative. Capstone Publishing Ltd.
  27. Robinson, K. (2013, maio). How to escape education ́s death valley. [Vídeo]. TED Conferences. https://www.ted.com/talks/ken_robinson_how_to_escape_education_s_death_valley
  28. Rosch, E. (2016). Introduction to the Revised Edition. In F. Varela, E. Thompson, & E. Rosch, (Eds.), The embodied mind: Cognitive science and human experience (pp. xxxv-lv). The MIT Press. https://doi.org/10.7551/mitpress/6730.001.0001
  29. Ryle, G. (2009). The concept of mind. Routledge. https://doi.org/10.4324/9780203875858
  30. Scrivener; S. (2002). The art object does not embody a form of knowledge. Working Papers in Art and Design 2, pp 1-14. https://www.herts.ac.uk/__data/assets/pdf_file/0008/12311/WPIAAD_vol2_scrivener.pdf
  31. Scrivener; S. (2021). The art object does not embody a form of knowledge revisited. In C. Vear, L. Candy, & E. Edmonds (Eds.), The Routledge international handbook of practice-based research (pp. 277-292). Routledge. https://doi.org/10.4324/9780429324154
  32. Sheets-Johnstone, M. (2011). The Primacy of Movement. John Benjamins Publishing Company. https://doi.org/10.1075/aicr.82
  33. Smith, H., & Dean, R. T. (2009). Practice-led research, research-led practice. Edinburgh University Press.
  34. Stern, D. (1985). The interpersonal world of the Infant: A view from psychoanalyses and developmental psychology. Basic Books. https://doi.org/10.4324/9780429482137
  35. Tavares, G. M. (2013). Atlas do corpo e da imaginação. Editorial Caminho.
  36. Uexkull, J. von. (1992). A stroll through the worlds of animals and men: A picture book of invisible worlds. Semiotica Journal of the international association for semiotic studies, 89(4), 319-391. https://doi.org/10.1515/semi.1992.89.4.319
  37. Ulmer, J. B. (2015). Embodied writing: Choreographic composition as methodology. Research in Dance Education, 16(1), 33-50. https://doi.org/10.1080/14647893.2014.971230
  38. Varela, F., Thompson, E., & Rosch, E. (2016). The embodied mind: Cognitive science and human experience. The MIT Press. https://doi.org/10.7551/mitpress/6730.001.0001
  39. Vear, C., Candy, L., & Edmonds, E. (Eds.). (2021). The Routledge International Handbook of Practice-Based Research. Routledge. https://doi.org/10.4324/9780429324154
  40. Worldinformant (2011, 2 março). Robert Sapolsky: Are humans just another primate? Vídeo de conferência. In California Academy of Science. [Vídeo]. YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=YWZAL64E0DI