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Chamada de artigos para secção temática: "Ritmos presentes e futuros: Explorando a interseção entre Dança e Inteligência Artificial nas Artes Cénicas"

A Revista Estud(i)os de Dança (RED) lança uma secção temática dedicada ao tema: “Ritmos presentes e futuros: Explorando a interseção entre Dança e Inteligência Artificial nas Artes Cénicas”

Convidamos investigadores, académicos e profissionais a submeter contribuições originais para a Revista Estud(i)os de Dança (RED), que este ano explora o tema da Inteligência Artificial (IA) nas Artes Cénicas. A relação entre Dança e IA tem-se intensificado, revelando novas possibilidades criativas e pedagógicas, desafiando-nos a investigar as suas possibilidades. Esta interação inaugura um campo fértil para a inovação, mas também exige reflexão crítica sobre os impactos éticos, culturais e estéticos dessas tecnologias.

A reflexão sobre o que a IA oferece à dança e aos estudos das artes cénicas expande-se para considerar de que forma a dança e os estudos das artes cénicas podem, por sua vez, contribuir para a compreensão e aplicação da IA. Entendida como algo mais do que um simples instrumento, a IA levanta questões profundas sobre as suas implicações a longo prazo: representa um enriquecimento ou um empobrecimento para as artes, a dança e a cultura? Neste cenário, torna-se essencial discutir a ética subjacente à construção da imagem do corpo e às suas interações com a tecnologia.

Pioneiros como Merce Cunningham abriram caminhos ao integrarem tecnologia na criação coreográfica, utilizando softwares como o LifeForms e técnicas de captura de movimento. Mais recentemente, artistas como Wayne McGregor têm explorado diretamente a IA, como na obra Living Archive (McGregor, 2019; Olbrich, 2019; Williams, 2019), desenvolvida com o Google Arts & Culture, onde algoritmos geram novos estilos a partir do seu repertório. Ferramentas como o EDGE Dance Animator (Myers, 2023) e sistemas de cocriação musical em tempo real (Vechtomova & Bos, 2025) exemplificam como a IA pode colaborar na composição, análise e preservação do movimento. Além disso, plataformas como o DancingInside têm ampliado o acesso à educação em dança, oferecendo feedback em tempo real e superando barreiras físicas (Yang, 2023) sem, contudo, substituir o papel insubstituível do professor e das aprendizagens presenciais (Kang et al., 2023; Wang, 2024).

Na dança, a IA tem-se destacado na composição coreográfica, no treino corporal, na análise de movimentos e na preservação cultural, enquanto no teatro é aplicada em dramaturgias interativas e cenografias dinâmicas. Com o avanço da Inteligência Artificial Generativa (IAG), um subconjunto da IA concentra-se na criação de novos conteúdos através de algoritmos baseados em aprendizagem de redes neurais, como as Redes Neurais Generativas Adversariais (GANs) e Transformadores, como o GPT, para identificar padrões nos dados de treino e gerar outputs informativos.

De maneira geral, a inteligência artificial tem utilidade para artistas como apoio no brainstorming, planeamento de ensaios, geração de movimentos e documentação de trabalhos, sem substituir a intuição e a experiência adquirida. No entanto, a sua crescente presença traz preocupações éticas sobre direitos autorais, créditos, remuneração e consentimento. Algumas críticas concentram-se em aspectos específicos do impacto da IA, como preocupações com perda de empregos, criatividade, vigilância, desigualdade ou uso indevido.

O impacto dessa tecnologia reflete-se em vários setores, desde a produção artística até avanços científicos. Contudo, a dança liberta o corpo de normas sociais e cria novas subjetividades, mas as aplicações de IA na dança, como a captura de movimento e os avatares digitais, podem moldar as subjetividades e apontar para uma desmaterialização do corpo (Gil, 2025). Enquanto os dançarinos exploram o potencial criativo da IA em coreografias e performances, grandes empresas utilizam a tecnologia para recolher dados de movimentos, gerando tanto oportunidades quanto desafios éticos para o setor (Wingenroth, 2023).

Diante desse cenário, esta secção especial da RED busca reunir contribuições que reflitam criticamente sobre os limites e potenciais dessa interseção. Ensaios teóricos, relatos de projetos, análises de pesquisa e reflexões éticas são bem-vindos. 

Este é um momento singular para pensar o futuro da dança e das artes cénicas em diálogo com a tecnologia — respeitando a tradição, estimulando a inovação e celebrando o poder expressivo do corpo em movimento.

Tópicos sugeridos:

  • O uso da IA no treino corporal e na educação de movimento
  • Ferramentas de IA para criação coreográfica e novas linguagens
  • Acessibilidade e inclusão na relação entre dança e IA
  • O papel da IA na preservação e catalogação do património coreográfico
  • Presença expandida e experiências multisensoriais
  • Preservação e arquivamento artístico com IA
  • Narrativas e criatividade com IA
  • Transdisciplinaridade e colaborações com outras áreas cénicas em diálogo com IA
  • Redes globais e digitais de artistas interconectados com IA
  • Ética e impactos culturais
  • Corporeidade, movimento e identidade digital — desenvolvimento de corpos virtuais ou digitais guiados por IA

Referências bibliográficas

Rhizomatiks Research, ELEVENPLAY, & McDonald, K. (2019, April 30). Discrete figures 2019 @GRAY AREA, Grand Theater. Abstract Engine Co., Ltd. https://rhizomatiks.com/en/release/2019/04/30/discrete-figures-2019-gray-area/https://rhizomatiks.com/en/release/2019/04/30/discrete-figures-2019-gray-area/

Gil, J. (2025). Pontas soltas: Inteligência artificial, o outro, revoluções. Relógio d’Água Editores.

Kang, J., Kang, C., Yoon, J., Ji, H., Li, T., Moon, H., Ko, M., & Han, J. (2023). Dancing on the inside: A qualitative study on online dance learning with teacher-AI cooperation. Education and Information Technologies, 28(9), 12111–12141. . https://doi.org/10.1007/s10639-023-11649-0.

Olbrich, S. (Text). (2019, April 30). Living Archive: Creating choreography with artificial intelligence. Studio Wayne McGregor. Google Arts & Culture. .https://artsandculture.google.com/story/living-archive-creating-choreography-with-artificial-intelligence-studio-wayne-mcgregor/1AUBpanMqZxTiQ?hl=en

Williams, B. C. (2019). Living Archive [Instalação de vídeo]. The Music Center, Los Angeles. https://bencullenwilliams.net/livingarchivehttps://bencullenwilliams.net/livingarchive

Myers, A. (2023, 20 de abril). AI-powered EDGE Dance Animator aplica IA generativa à coreografia. Stanford HAI.https://hai.stanford.edu/news/ai-powered-edge-dance-animator-applies-generative-ai-choreography

McGregor, W. (2019, novembro). Living Archive [Experimento interativo]. Google Arts & Culture Lab. https://experiments.withgoogle.com/living-archive-wayne-mcgregor

Vechtomova, O., & Bos, J. (2025, June 13). Reimagining dance: Real-time music co-creation between dancers and AI. arXiv. https://doi.org/10.48550/arXiv.2506.12008

Yang, Y. (2023, 19 de dezembro). In what ways is AI disrupting the dance industry? Arts Management and Technology Lab.  https://amt-lab.org/blog/2023/12/in-what-ways-is-ai-disrupting-the-dance-industry

Wang, Z. (2024). Artificial intelligence in dance education: Using immersive technologies for teaching dance skills. Technology in Society, 77, 102579. https://doi.org/10.1016/j.techsoc.2024.102579

Wingenroth, L. (2023, 28 de julho). How are dance artists using AI—and what could the technology mean for the industry? Dance Magazine.https://www.dancemagazine.com/how-dancers-use-ai/

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Fatima Wachowicz é dançarina, pesquisadora e professora. Concluiu o Pós-Doutorado na Western Sydney University – The MARCS Institute, Australia (bolsista CAPES/2015), onde desenvolveu pesquisa experimental e utilizou métodos advindos da psicologia cognitiva para investigar os processos cognitivos que atuam intensamente durante o treinamento Viewpoints. É Doutora em Artes Cênicas pelo Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas - Universidade Federal da Bahia/UFBA, Brasil (2009). Trabalha com técnicas de Contato Improvisação e Viewpoints e investiga os processos cognitivos da atenção, percepção e memória do movimento, na criação e performance da dança. Atualmente é professora na Escola de Dança/PPGDança-UFBA e coordena o Grupo de Pesquisa ARTE: Dança, Cognição e Criação (@gpartedcc) (CNPq).

Wagner Miranda Dias, Doutor e Mestre em Comunicação e Semiótica, na linha de pesquisa Processos de Criação na Comunicação e na Cultura, formado pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Especialista em História das Artes - Teoria e Crítica e Graduado em Artes Visuais (Licenciatura) e em Teatro (Licenciatura), pela Faculdade Paulista de Artes. É ator formado na Casa das Artes de Laranjeiras / CAL, no Rio de Janeiro e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Processos de Criação da PUC-SP (CNPq). É professor, arte-educador, diretor de teatro, ator, cenógrafo, figurinista, performer e artista visual. Foi professor do curso de especialização em História da Arte Teoria e Crítica da Faculdade Paulista de Artes de 2016 até 2021 e artista orientador durante quatro edições do Projeto Teatro Vocacional (2008, 2009, 2011, 2012), da Secretaria de Cultura da Cidade de São Paulo. Como ator, trabalhou com diretores como Tizuka Yamazaki, Marcio Aurélio, Amir Haddad, Daniela Thomas, Vladimir Capella, Márcio Vianna, Gabriel Villela, entre outros. Atualmente dirige a Cia de Navegação Teatral, é investigador colaborador e professor convidado do Mestrado em Processos de Criação, do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) Universidade do Algarve (UALg) e integra o corpo docente (Pós-graduação e Graduação) e é coordenador dos cursos de graduação (bacharelado) de Artes cênicas e Cinema e Audiovisual do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. É professor da Pós-graduação em Processos de Criação da PUC-SP. Autor do livro Roberto Alencar: o corpo em trânsito (2022) e de artigos publicados em periódicos como Revista Significação, Revista Brasileira de Estudos da Presença, Revista Moringa, Revista Rascunhos: Caminhos da Pesquisa em Artes Cênicas, entre outros.