É professor, investigador, actor e encenador. Professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Lecciona, onde lecciona Dança Contemporânea, Estudos de Performance e Eco-Performance no âmbito da licenciatura em Estudos Artísticos e do Programa em Estudos de Teatro e Performance. Investigador do Centro de Estudos de Teatro, onde coordena a linha de investigação Práticas Discursivas em Artes Performativas. Membro (antigo co-convener) do Choreography & Corporeality Working Group da International Federation for Theatre Research. Membro da Direcção Executiva da Sinais de Cena: revista de estudos de teatro a artes performativas. Enquanto actor (desde 2001) e director artístico (desde 2009), tem trabalhado com diversos criadores em teatro e cinema. Colaborador regular do Teatro do Vestido.
Tendo por base a experiência crítica da performance Nome de filme, de Bibi Dória, particularmente sobre duas das suas apresentações – no programa Interferências, em 2021, e no ciclo Cartografias, em 2023 –, este artigo começa por identificar a presença crescente de um conjunto de artistas migrantes cujo trabalho se tem manifestado de forma marginal ao encadeamento histórico da dança contemporânea em Portugal. Nesse sentido, desenvolvo a noção de geodança para me referir às forças canónicas que procuram estabelecer relações de causa-efeito entre as práticas artísticas e o legado sociocultural do território onde estas estão implantadas; reconhecendo, através do levantamento dos estudos existentes, os contornos específicos do panorama nacional.
É a partir deste confronto crítico que reforço a ideia do surgimento de uma prática nómada – para a definição da qual recorro ao pensamento de Rosi Braidotti – e que tem vindo a ocupar um espaço de contramemória e resistência aos processos de sedimentação epistemológica de uma possível genealogia da dança em Portugal. Neste contexto, abordo a relevância do posicionamento político em torno de questões emergentes e do carácter interdisciplinar das propostas apresentadas, sublinhando a necessidade de encarar a criação contemporânea a partir de uma perspetiva transversal ao estudo das artes performativas.
O olhar que conduz a minha escrita é o de um espectador implicado, designadamente sobre a performance de Bibi Dória, tentando, desse modo, situar o lugar a partir do qual avisto as coisas. Não só para poder oferecer-me enquanto correspondente desse mesmo movimento primordial da errância, mas também para deixar em aberto outras possibilidades de escuta e sensibilidades cognitivas sobre estas poéticas de emancipação territorial.
Referências
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