
Este estudo começa por problematizar as condições necessárias para a fundação e desenvolvimento da disciplina de Etnocoreologia em Portugal. Para tanto, tencionamos em primeiro lugar contextualizar internacionalmente esta disciplina na sua relação com a área fundacional da Etnomusicologia. Ao mesmo tempo, é nossa intenção realizar uma análise crítica do caminho dos estudos folcloristas em Portugal, esclarecendo os traçados que, desde o século XIX, foram marcando o território onde os conceitos de popular, tradição e autenticidade ficaram politicamente entrelaçados. Colocaremos então a hipótese de que as alterações sociais e culturais introduzidas pela Revolução dos Cravos impactariam tardiamente naquele entrelace, não tanto por via de uma prática teórica, mas sobretudo graças a uma teoria incorporada que a dança contemporânea trouxe. Com efeito, defendemos que no terreno da dança contemporânea aconteceria, já no século XXI, o desenlace necessário para a recuperação de novos modos de enlace no âmago da cultura expressiva, quebrando as fronteiras entre a alta cultura e a baixa cultura. Assim, coreógrafas como Filipa Francisco e Clara Andermatt trouxeram modos de desenlace de formas coreográficas tradicionais, fazendo-as participar através de trabalhos colaborativos com comunidades de praticantes, em novos enlaces, que encontram, no quadro da dança teatral, soluções híbridas de refrescamento das assim designadas tradições nacionais.