O presente artigo aborda os processos de construção corporal e de formação da identidade artística no contexto da formação em dança no ensino vocacional. Assente numa metodologia qualitativa, desenvolvida no âmbito de um doutoramento, o estudo envolveu dez estudantes da Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa. O trabalho de campo incluiu a implementação de um curso de Movimento Somático (MS), composto por vinte sessões práticas, complementadas por entrevistas e diários de bordo. Os resultados evidenciam processos de transição e reconfiguração identitária nos estudantes, atravessados por tensões entre o corpo como objeto e como sujeito da experiência. Os discursos dos participantes revelam um confronto entre o habitus previamente adquirido — que integra valores e ideais estéticos interiorizados — e as novas abordagens técnicas e pedagógicas do ensino superior, que promovem o questionamento e a desconstrução desses padrões.Os discursos dos participantes revelam o confronto entre o habitus previamente adquirido — que incorpora determinados valores e ideais estéticos interiorizados — e as novas abordagens técnicas e pedagógicas do ensino superior, que suscitam o questionamento e a desconstrução desses padrões. O curso de MS desenvolveu competências ao nível da consciência sensorial, possibilitando a descoberta de novos modos de mover e de percecionar o corpo, o que favoreceu uma apropriação mais subjetiva e autorreflexiva do movimento. Conclui-se que a integração de práticas somáticas no ensino da dança, ao promover uma aprendizagem sensível e reflexiva, favorece a articulação entre as dimensões experiencial, performativa e representativa do corpo em movimento, contribuindo para a construção da identidade artística do estudante de dança.