Saltar para menu de navegação principal Saltar para conteúdo principal Saltar para rodapé do site

Artigos originais

Vol. 1 N.º 1 (2023): Revista Estud(i)os de Dança 1

Retornos entre a criação artística e a pesquisa científica: Uma metodologia de transmutação entre a experiência artística e a escrita académica

DOI
https://doi.org/10.53072/RED202301/00201

Resumo

Partindo do exemplo de um processo de Pesquisa Baseada na Prática desenvolvido no âmbito de uma investigação de doutoramento em dança, este artigo faz uma reflexão que foca a natureza e mais valias do conhecimento gerado pela prática artística em contraponto com a natureza do modo de conhecimento tradicionalmente associado à produção académica. 

Fundamentando-se em diversos autores do âmbito de estudos de Embodied Cognition, na análise dos conceitos de know-how e know-what de Gilbert Ryle (2009) e nas questões de linguagem e intersubjetividade de Daniel Stern (1985), o conhecimento desenvolvido pela prática artística é aqui exposto enquanto um conhecimento incorporado no qual se gera sentido através das perceções somáticas e sensoriomotoras, ao passo que o conhecimento académico é caracterizado essencialmente enquanto um modo de conhecimento teórico, onde se concebe e formula sentido através da estrutura da linguagem verbal. Desse modo, deduz-se que, num processo de Pesquisa Baseada na Prática caracterizado pela interação entre a prática artística e a investigação teórica académica, torna-se fundamental desenvolver metodologias que consigam refletir estas diferenças (relativas ao modo de sentir e conceber sentido) e, simultaneamente, integrá-las. Além disso, considerando que a estrutura da linguagem verbal influencia a forma como pensamos, propõe-se que no âmbito de tais metodologias se questione e desafie o modo de usar a linguagem verbal. Partindo destas considerações, este artigo aponta uma proposta metodológica para a transferência entre modos de conhecimento intrínsecos à prática investigativa do âmbito da criação artística e os modos de conhecimento concebidos no domínio da investigação académica. 

Defende-se ainda que o conhecimento incorporado, ao invés da tendência tradicional do conhecimento académico, predispõe-se a uma atitude ética de qualidades dinâmicas, adaptativas. Uma atitude que não aspira agarrar o mundo como algo estático e definitivo ou controlar o ambiente enquanto algo extrínseco mas sim experienciar o desafio de incorporar e navegar o ambiente. 

Referências

  1. Billeter, J.-F. (2002). Leçons sur Tchouang-Tseu. Allia.
  2. Bolt, B. (2007). The Magic is in Handling. In E. Barrett and B. Bolt (Eds), Practice as research: Approaches to creative arts enquiry (pp. 27-34). I.B. Tauris. http://dx.doi.org/10.5040/9780755604104.ch-002
  3. Candy, L. (2006). Practice based research: A guide. CCS Report: 2006-V1.0 November. University of Technology Sydney.
  4. Clark, A. (1998). Embodiment and the philosophy of mind. In A. O ́Hear (Ed.), Current Issues in Philosophy of Mind (Supplement 43, pp. 35-51), Royal Institute of Philosophy. Cambridge University Press. https://doi.org/10.1017/S135824610000429X
  5. Claxton, G. (2005). Mindfulness, Learning and the Brain. Journal of Rational-Emotive & Cognitive Behaviour Therapy, 23(4), 301-314. https://doi.org/10.1007/s10942-005-0016-8
  6. Damásio, A. (2003). Ao Encontro de Espinosa. Publicações Europa América.
  7. Damásio, A. (2010). O livro da consciência: A construção do cérebro consciente. Círculo de Leitores.
  8. Deleuze, G., & Guattari, F. (1987). A thousand plateaus: Capitalism and schizophrenia II. University of Minnesota Press.
  9. Dezeuze, A. (2002). Origins of Fluxus score: From indeterminacy to the `do-it-yourself ́ artwork. Performance research, 7(3), 78-94. https://doi.org/10.1080/13528165.2002.10871876
  10. Dolphijn, R., & Van der Tuin, I. (2012). New materialism: Interviews & cartographies. Open Humanities Press.
  11. Feyerabend, P. (1993). Against Method. Verso Books.
  12. Fink, E. (1981). The problem of the phenomenology of Edmund Husserl. In W. Mckenna, R. M. Harlan, & L. E. Winters (Eds.), Apriori and World: European Contributions to Husserlian Phenomenology (pp. 21-55). Nijhoff Publishers. https://doi.org/10.1007/978-94-009-8201-7_2
  13. Furlong, J., & Oancea A. (2006). Assessing quality in applied and practice-based educational research: A framework for discussion. Australian Educational Researcher Journal, 33 (special issue), 89-104. https://doi.org/10.1080/02671520701296015
  14. Haseman, B. (2006). A Manifesto for Performative Research. Media International Australia, 118(1), 98-106. https://doi.org/10.1177/1329878X0611800113
  15. Lakoff, G., & Johnson, M. (1980). Conceptual metaphor in everyday language. The Journal of Philosophy LXXXVII(8), 453-486. https://doi.org/10.2307/2025464
  16. Lakoff, G., & Johnson, M. (1999). Philosophy in the flesh: The embodied mind and its challenge to western thought. Basic Books.
  17. Lakoff, G., & Johnson, M. (2003). Metaphors we live by. University of Chicago Press.
  18. Lima, C. de (2013). Trans-Meaning: Dance as an embodied technology of perception. Journal of Dance and Somatic Practices, 5(1),17-30. https://doi.org/10.1386/jdsp.5.1.17_1
  19. Lima, C. de (2017a). Pensamento transversal: A arte de experienciar o mundo como o paradoxo de movimento [Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa]. Repositório da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10400.5/15019
  20. Lima, C. de (2017b). A Arte vem resgatar e ferir os limites e definição do conhecimento teórico [Imagem gráfica]. In C. de Lima, Pensamento transversal: A arte de experienciar o mundo como o paradoxo de movimento [Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa], p. 42. Repositório da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10400.5/15019
  21. Lima, C. de (2017c). O fenómeno de conhecer é intrinsecamente transcendente [Imagem gráfica]. In C. de Lima, Pensamento transversal: A arte de experienciar o mundo como o paradoxo de movimento [Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa], p. 99. Repositório da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10400.5/15019
  22. Lima, C. de (2017d). Score 4 [Imagem gráfica]. In C. de Lima, Pensamento transversal: A arte de experienciar o mundo como o paradoxo de movimento [Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa], p. 82. Repositório da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10400.5/15019
  23. Little, S. (2011). Practice and performance as research in the arts. In D. Bendrups, & G. Downes (Eds.), Dunedin soundings (pp. 17-26). University of Otago Press. https://ourarchive.otago.ac.nz/handle/10523/6769
  24. Merleau-Ponty, M. (1999). Fenomenologia da Percepção. Martins Fontes Editora Lda.
  25. Merleau-Ponty, M. (2006). O olho e o espírito. Vega.
  26. Robinson, K. (2001). Out of our minds: learning to be creative. Capstone Publishing Ltd.
  27. Robinson, K. (2013, maio). How to escape education ́s death valley. [Vídeo]. TED Conferences. https://www.ted.com/talks/ken_robinson_how_to_escape_education_s_death_valley
  28. Rosch, E. (2016). Introduction to the Revised Edition. In F. Varela, E. Thompson, & E. Rosch, (Eds.), The embodied mind: Cognitive science and human experience (pp. xxxv-lv). The MIT Press. https://doi.org/10.7551/mitpress/6730.001.0001
  29. Ryle, G. (2009). The concept of mind. Routledge. https://doi.org/10.4324/9780203875858
  30. Scrivener; S. (2002). The art object does not embody a form of knowledge. Working Papers in Art and Design 2, pp 1-14. https://www.herts.ac.uk/__data/assets/pdf_file/0008/12311/WPIAAD_vol2_scrivener.pdf
  31. Scrivener; S. (2021). The art object does not embody a form of knowledge revisited. In C. Vear, L. Candy, & E. Edmonds (Eds.), The Routledge international handbook of practice-based research (pp. 277-292). Routledge. https://doi.org/10.4324/9780429324154
  32. Sheets-Johnstone, M. (2011). The Primacy of Movement. John Benjamins Publishing Company. https://doi.org/10.1075/aicr.82
  33. Smith, H., & Dean, R. T. (2009). Practice-led research, research-led practice. Edinburgh University Press.
  34. Stern, D. (1985). The interpersonal world of the Infant: A view from psychoanalyses and developmental psychology. Basic Books. https://doi.org/10.4324/9780429482137
  35. Tavares, G. M. (2013). Atlas do corpo e da imaginação. Editorial Caminho.
  36. Uexkull, J. von. (1992). A stroll through the worlds of animals and men: A picture book of invisible worlds. Semiotica Journal of the international association for semiotic studies, 89(4), 319-391. https://doi.org/10.1515/semi.1992.89.4.319
  37. Ulmer, J. B. (2015). Embodied writing: Choreographic composition as methodology. Research in Dance Education, 16(1), 33-50. https://doi.org/10.1080/14647893.2014.971230
  38. Varela, F., Thompson, E., & Rosch, E. (2016). The embodied mind: Cognitive science and human experience. The MIT Press. https://doi.org/10.7551/mitpress/6730.001.0001
  39. Vear, C., Candy, L., & Edmonds, E. (Eds.). (2021). The Routledge International Handbook of Practice-Based Research. Routledge. https://doi.org/10.4324/9780429324154
  40. Worldinformant (2011, 2 março). Robert Sapolsky: Are humans just another primate? Vídeo de conferência. In California Academy of Science. [Vídeo]. YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=YWZAL64E0DI