Igor Gasparini é formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e em Educação Física e Saúde pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-Graduado em Jornalismo Cultural, com ênfase em Crítica de Dança (PUC-SP), Mestre em Comunicação e Semiótica, também pela PUC-SP e Doutorando em Artes da Cena, pelo Instituto de Artes da UNICAMP. Diretor e Intérprete-Criador da T.F. Cia de Dança. Recebeu o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) de melhor estreia de dança com a obra “ELO” e indicado ao prêmio de Coreografia | Criação para “RASTRO” (www.tfciadedanca.com.br). Professor dos Cursos Técnicos de Dança na Academia Tania Ferreira e na Escola Técnica de Artes (ETEC); foi também professor da Licenciatura e do Bacharelado em Artes Cênicas do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
As reflexões propostas neste artigo advêm do interesse em investigar as relações entre os processos de criação em dança, as escolhas estético-dramatúrgicas e o papel do público em obras fora da caixa preta, com a sua relação direta na percepção do tempo nas artes, a partir das experiências junto à T.F. Cia de Dança. Uma das hipóteses considera a possibilidade de que trabalhos fora da caixa preta, numa zona cinzenta, oferecem ao espectador a opção de escolha e interação com a obra, assemelhando-se ao cubo branco, mas mantendo ainda a característica de obra cénica. O multiperspetivismo, a temporalidade, a simultaneidade das ações e a relação com dispositivos móveis são alguns dos aspetos elencados pela autora Claire Bishop (2018) como características de obras e artistas que se situam nesta zona cinzenta, experiências que foram estudadas e aplicadas na prática por meio de três residências artísticas realizadas pelo núcleo artístico na cidade de São Paulo. Para Claire Bishop, a migração das artes performativas para o espaço do museu traz consigo uma série de efeitos, entre os quais se destaca a retemporalização da performance, do “tempo do evento” ao “tempo da exposição”. Este agrupamento de ações produz situações que precisam de mais visibilidade para serem discutidas com propriedade, e a intenção aqui é olhar com mais atenção para trabalhos que escapem à lógica tradicional da caixa preta, convocando uma outra postura por parte do público, forjando um espectador acinzentado.
Referências
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