Emyle Daltro é artista, pesquisadora e professora dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Dança e da Pós-Graduação em Artes, ambos da Universidade Federal do Ceará (UFC), Brasil. Doutora em Arte pela Universidade de Brasília (UnB), mestra em Estudos de Cultura Contemporânea pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Coordena o Grupo de Pesquisa Coletivo Areia: pesquisa artística e criação em/com dança e o projeto de pesquisa Conferências Dançantes movidas pela interculturalidade crítica. É coordenadora dos Estágios do Bacharelado e da Licenciatura em Dança da UFC. Integra o Fórum Social do Notório Saber do Ceará e é membro pesquisadora do Observatório e Laboratório de Pesquisa Artística: performance, criação e cultura contemporânea na América Latina (UFMT).
A proposta deste artigo é apresentar e discutir aspetos do processo de criação do trabalho cénico Folharal, de Emyle Daltro, com banda sonora de Bruno Esteves. Folharal – bicho, gente, planta, solo, sons, cheiros, memórias... – agencia processos de (re/de)composição. A artista da dança e o músico, em cena, experimentam inventar dança, música e enredos com folhas, investigando movimentos, estados de presença, sonoridades, sensações, imagens, e estabelecendo conexões com a infância. Este processo de criação e pesquisa conecta-se, de modo sensível, à terra e a modos de vida não hegemónicos e não/humanos. Folhas secas atuam promovendo transformações e possibilitando o encontro com alteridades. A discussão que o texto apresenta refere-se, principalmente, à composição em dança com não/humanos, tecida com o uso de regimes de atenção que favorecem o aflorar dos sentidos do corpo, acionando memórias-húmus. Evidencia procedimentos metodológicos dessa prática artística que podem ser pensados e articulados como métodos na pesquisa académica em artes – pesquisa artística –, levando em conta seriamente a experiência da performer como pesquisadora e criadora. Está em questão também o modo como Folharal não representa o conto chamado O Bicho Folharal, mas agencia as suas sociomaterialidades e intensidades, bem como o que estas produzem em termos de imagens e sensações para criar tramas e corpos em movimentos expressivos e cenas, fazendo com que histórias e memórias humanas e não/humanas se tornem ativadoras de produção corpórea, artística e académica.
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